O título desta exposição é retirado do programa Voyager da agência espacial Norte Americana NASA.
O programa Voyager gere duas sondas científicas, Voyager 1 e Voyager 2. Estas sondas foram lançadas em 1977 para aproveitar um alinhamento planetário favorável para a sua viagem. Inicialmente orientadas para estudar os planetas Júpiter e Saturno, foram capazes de prosseguir a sua missão e encontram-se actualmente fora do sistema solar. Contactos periódicos têm sido mantido com ambas as sondas para monitorizar a sua condição no espaço exterior. Os motores radioactivos continuam a alimentar as sondas, bem como, a esperança de ambas sucederem em atravessar a heliopausa do sistema solar. Voyager 1 é, neste momento, o artefacto humano que mais longe se encontra do planeta terra. No final de 2003 enviou informação de que possivelmente teria atravessado a zona do espaço chamada Termination Shock.
As Voyager são as mais carismáticas de todas as sondas espaciais, inspiraram literatura, cinema e música, no seu interior transportam o disco Voyager Golden Record, um conjunto de músicas e imagens seleccionadas por um comité da NASA presidido por Carl Sagan. Esta compilação pretende ilustrar a diversidade cultural do ser humano, é um cartão postal da nossa parte para os alienígenas no caso de uma hipotética intersecção das sondas por seres inteligentes.
Uma sonda espacial é basicamente uma sofisticada máquina fotográfica. É um instrumento controlado remotamente para fotografar paisagens naturais e enviar essas imagens para a comunidade científica poder estudar, interpretar e divulgar. Mas como acima se infere, uma sonda espacial é também o produto de uma época, e uma projecção estética.
Essa época, é a época da fotografia, a era fotográfica, ou o momento na história em que a humanidade acredita na correspondência entre um fenómeno físico e a sua representação, bem como na correspondência entre as imagens da física e a física das imagens. Essa época é também a época do 'futuro', a época em que a entropia será conquistada pelo progresso humano e técnico da ciência, e em que o signal-to-noise ratio se aposta em conquistar o 'noise'.
Esta exposição é uma exposição sobre paisagem contemporânea, mais exactamente paisagem urbana. As obras mostradas são inspiradas e referenciadas em imagens processadas a partir de fotografia de viagem.
Emulando o processo de trabalho das sondas espaciais, Carlos Roque visitou diversas cidades, em diferentes geografias e continentes, fotografando e gravando, principalmente, paisagens urbanas para depois manipular essa informação no atelier. Recorrer ao trabalho de outros fotógrafos também foi opção, nos casos em que não foi possível estar em certos lugares.
Este percurso inicia-se em Lisboa no ano de 2002 e termina em Brooklyn, Nova Iorque, em 2007. Foram filmadas mais de 50 horas em vídeo e tiradas mais de 5000 fotografias. Carlos Roque atravessou várias cidades, concentrando-se em grandes metrópoles e preferindo as zonas em que a estrutura urbana é modernista. As pinturas e vídeos desta exposição incluem imagens de Lisboa (Chelas), Maputo, Berlim, Paris (La Defense), Nova Iorque (Manhattan, Bronx, Brooklyn), Baltimore, Miami (Downtown Miami), Toronto, Sarnia, Cidade do México, São Paulo, Taiwan, Samara e San José. As imagens resultantes em pintura, desenho e filme vídeo são directamente inspiradas nestas tomadas de vista.
Traçando uma analogia entre a sonda espacial e a fotografia de viagem, o artista pretende aceder ao lado 'negro' do modernismo, à nostalgia que em nós desperta a presença de edifícios futuristas do passado recente, a maior parte deles em mau estado de conservação, senão mesmo totalmente decrépitos, como o reverso duma utopia falhada, remetendo para uma sensação de nostalgia pelo futuro. Essa nostalgia sendo no entanto assombrada por uma inquietante presença, ou a insinuação de uma presença, que como um vírus corrói a integridade das imagens. Assim como fungos e ervas daninhas se apoderam das cidades do futuro, ou como o vácuo negro acabará por engolir a Voyager. A presente exposição pretende exprimir esse momento que é o presente momento, um momento suspenso entre o 'signal' e o 'noise', em que ainda nos chegam imagens da heliopausa do sistema solar, algumas ultimas imagens, antes dum perpéctuo silêncio.
|